terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Campanha quer promover cidadania e não apenas tratamento da Aids

Todo 1º de dezembro é Dia Mundial de Luta contra a Aids. Como ressalta o secretário executivo da Pastoral da Aids no Brasil, frei José Bernardi, esta campanha é importante para conscientizar a população sobre a epidemia da doença que atinge muitos países. Além disso, o Dia de Luta pretende também combater o preconceito e a discriminação em relação aos portadores do vírus do HIV.

Frei Bernardi destaca ainda que a campanha mundial visa o alerta aos governos para que não promovam apenas o tratamento de pessoas com aids, mas também seu bem-estar social: "Junto com o tratamento para a doença é necessário promover a cidadania das pessoas com HIV através de políticas públicas que possibilitem emprego e renda, moradia e alimentação dignas".

Qual a importância deste Dia de campanha?

Frei Bernardi - A campanha é importante porque chama atenção de toda a sociedade que a epidemia do HIV ainda está presente e, infelizmente, tem atingido a população de forma silenciosa. Com os avanços da ciência e da medicina, conseguiu-se controlar as manifestações da doença, mas não o seu aumento. A cada ano, no Brasil, são registrados 30 mil novos casos de aids. Isto é um número altíssimo para o sistema de saúde, pois significa que, a cada ano, se somam estes números aos que já estão em tratamento. Por outro lado, ainda está enraizado o preconceito e a discriminação com quem se descobre com HIV. A campanha deste ano enfatiza exatamente este aspecto: "Viver com aids é possível, com preconceito, não!".

Quais são as principais reivindicações junto aos governos no combate à doença?

Frei Bernardi - O movimento de combate à aids reivindica o cumprimento da legislação que prevê a distribuição gratuita dos medicamentos e o acompanhamento sistemático das pessoas que tem HIV. Em muitos estados e municípios está havendo um desmantelamento dos programas e serviços que cuidam deste setor, em função de que há outras prioridades. Isto vem sendo criticado pelas organizações da sociedade civil. Embora o Brasil tenha um programa exemplar de enfrentamento à epidemia, ainda há taxas de transmissão vertical – da mãe infectada para o bebê – que são inconcebíveis. Por outro lado, junto com o tratamento para a doença e necessário promover a cidadania das pessoas com HIV através de políticas públicas que possibilitem emprego e renda, moradia e alimentação dignas.


Como está o andamento pelo Brasil da campanha para o diagnóstico precoce da Aids?

Frei Bernardi - Está em andamento a experiência piloto em cinco cidades do Brasil, na parceria entre o Ministério da Saúde e a CNBB: Porto Alegre, Curitiba, João Pessoa, Fortaleza e Manaus. Temos notícias que houve um crescimento na procura dos testes nas cidades envolvidas. Em Curitiba, por exemplo, aumentou 10% a procura. Um bom resultado é a repercussão nos meios de comunicação. Isso deixa o tema da aids na discussão pública e, deste modo, a população é convidada a pensar sobre o assunto, inclusive repensando suas atitudes diante do vírus, diante das pessoas com HIV e da possibilidade de também ser atingido pela doença, pois todos somos vulneráveis. A campanha desfaz uma série de mitos produzidos: que a Igreja atrapalha, que a Igreja é contra, que é impossível trabalhar juntos, mesmo pensando e tendo estratégias diferentes. A campanha foi pensada sob o enfoque das coisas que temos em comum: responsabilidade de contribuir para o controle da epidemia, de incentivar as pessoas a terem vida saudável e que se ofereça serviço de saúde de qualidade.


Em recente pesquisa do Programa das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), o número de infecções pelo vírus HIV em todo o mundo teve queda de 17% nos últimos oito anos. Este percentual de redução de infecções pelo vírus HIV é confirmado pelos governos e entidades mundiais? Como está a situação pelo mundo?

Frei Bernardi - Realmente as notícias são de que houve uma diminuição dos casos. Uma das razões é a mudança no modo de calcular ou fazer a estimativa. Há uma relativa diminuição no número de pessoas que desenvolvem a doença em função de que há mais medicamentos disponíveis, mas nos países pobres somente 15% dos que necessitam tem acesso ao tratamento. Atualmente, cerca de 33 milhões vivem com HIV no mundo.

Por Gracielle Reis
Fonte: Canção Nova

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