terça-feira, 27 de maio de 2008

OMS inicia cruzada para proibir todas as formas de propagandas de tabaco

Indústria do tabaco na Justiça para voltar a anunciar em rádios, emissoras de TV e outros veículos. ACT requer seu ingresso na Ação Direta de Inconstitucionalidade impetrada pelas empresas, exigindo a manutenção do veto à publicidade. Também pede a proibição total de qualquer tipo de promoção de cigarros

Para garantir que a lei 10.167/2000 - que proibiu a publicidade de produtos de tabaco em TVs, rádios, revistas, jornais, Internet, outdoors - continue a ser cumprida, a Aliança de Controle do Tabagismo (ACT) vai requerer amanhã, 27 de maio, em Brasília, seu ingresso na ADIN como terceiro interessado ('amicus curiae'), assim como outras entidades já fizeram. A ACT tem a convicção de que a volta da veiculação dos anúncios de cigarros é um passo atrás em relação ao avanço que o país conquistou em termos de controle do tabagismo.

Essa ameaça à lei 10.167/2000 se deve à Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN), impetrada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) junto ao Supremo Tribunal Federal, com o objetivo de liberar a propaganda de cigarros. A CNI questiona a legislação com o argumento de que ela feriria a Constituição Federal, por interferir na liberdade de manifestação comercial. Essa ação também quer retirar as advertências sobre os malefícios do cigarro de suas embalagens e peças publicitárias. A ACT vê tal iniciativa como uma ameaça à atual lei 10.167/2000 - e à saúde pública. Portanto, exige que as autoridades competentes mantenham as restrições à publicidade, conforme a lei 10.167/2000, e julguem a ADIN improcedente.

O ingresso da ACT na ADIN acontece justamente na semana de 31 de maio, Dia Mundial sem Tabaco. Neste ano, em particular, a Organização Mundial da Saúde aproveita a data para colocar a indústria do tabaco em xeque. Em todo o planeta será deflagrada uma ampla campanha para proibir definitivamente todas as formas de propaganda e promoção do tabaco. A ação é focada inicialmente no público jovem, mas há a consciência de que a eliminação total da propaganda do fumo é fundamental para evitar a propagação do mal em todos os públicos, em todas as faixas etárias.

"A norma é evidentemente constitucional. A tendência mundial é proibir totalmente a publicidade de cigarros. Seria um retrocesso perante as conquistas em termos de saúde pública e de políticas de controle do tabagismo. Sem falar na própria Convenção Quadro, ratificada pelo Brasil, e que prevê a proibição total da publicidade", diz Paula Johns, diretora-executiva da ACT.

De fato, o artigo 13 de Convenção Quadro para o Controle do Tabaco, o primeiro tratado internacional de saúde pública, promovido pela OMS e adotado pelo Brasil, preconiza a proibição total de qualquer tipo de publicidade e promoção, inclusive nos pontos de venda.

Também neste dia 27, a OMS estará entregando ao governo brasileiro um diagnóstico sobre a política nacional de controle do tabagismo com uma série de recomendações. Há duas semanas no Brasil, uma missão de especialistas nacionais e internacionais da OMS analisou a capacidade nacional em controle do tabagismo. Esta é a primeira avaliação feita no mundo e o Brasil foi o país piloto. Agora, a análise será replicada em outros países. Integrantes da ACT participaram da missão na qualidade de especialistas nacionais sobre o tema.
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A EXPOSIÇÃO DE JOVENS À PROPAGANDA DO TABACO

É sabido que a maioria das pessoas começa a fumar antes de 18 anos e quase um quarto delas usa tabaco antes dos 10. Quanto mais novo for o jovem a experimentar o fumo, mais propenso está a se tornar usuário e menores são as possibilidades de parar de fumar.

Está claramente provado que a exposição direta ou indireta à propaganda de tabaco, junto com outras estratégias de marketing usadas pela indústria, leva a um aumento da experimentação entre os jovens e, por conseguinte, a um risco real de se tornarem usuários regulares de produtos de tabaco. A indústria gasta, em todo o mundo, 10 bilhões de dólares por ano para vender seus produtos de todas as maneiras possíveis.

Hoje a propaganda direta ou indireta é feita de várias formas: na televisão, rádio, Internet, revistas, banners, pôsteres; correio, cupons, outdoors, programas de fidelidade da marca, patrocínio de esportes e eventos culturais, revistas de circulação controlada distribuídas pela indústria e até brindes para estimular o consumo.

No Brasil, desde 2000, por meio da lei 10.167, a propaganda é proibida na TV, em rádios, jornais, revistas, outdoors, banners, pôsters, mas é permitida nos pontos de venda. Por isso, cada vez mais a indústria investe nesses locais, com material atraente especialmente para jovens e com a criação de abordagens diferenciadas, como a ação de promotores de seus produtos em bares e baladas. Também é proibido o patrocínio de eventos esportivos e culturais por marcas de cigarros, mas para burlar essa restrição, a indústria vem investindo cada vez mais em patrocínio institucional e em atividades convenientemente denominadas de Responsabilidade Social Empresarial (RSE).

MENSAGEM DA OMS

Em resposta à ameaça aos jovens e a toda a sociedade, este ano o Dia Mundial Sem Tabaco traz uma mensagem contundente:
Um dos meios mais eficazes dos países protegerem seus jovens da experimentação e de se tornarem fumantes é proibir todas as formas de propaganda de tabaco, direta ou indireta, incluindo a promoção e o patrocínio de eventos pela indústria.

A cruzada iniciada pela OMS deve-se ao fato de cerca de metade das crianças do mundo viverem em países que não proíbem a distribuição de amostra grátis de produtos de tabaco e a publicidade. Aliás, estudos de diversas nações, antes e depois da proibição de propaganda, atestam uma queda no consumo de mais de 16%.

O Estudo Global do Tabagismo entre os Jovens, realizado pela OMS em 46 países, revelou um quadro alarmante de dependência prematura. Em algumas áreas da Polônia, de Zimbábue e da China, crianças de 10 anos de idade já estão dependentes do tabaco.

No Brasil este mesmo estudo foi realizado entre estudantes de 12 capitais brasileiras, em 2002 e 2003, e encontrou uma prevalência de experimentação variando de 36 a 58% no sexo masculino e de 31 a 55% no sexo feminino. De acordo com o mesmo estudo brasileiro, a prevalência de escolares fumantes atuais variou de 11 a 27% no sexo masculino e 9 a 24% no feminino.

OS MALEFÍCIOS DO TABACO E SEU PODER MORTAL

O tabaco é a primeira causa de mortes no mundo, apesar de ser totalmente passível de prevenção. É o único produto legal de consumo que mata metade dos usuários, seguindo as instruções dos fabricantes, com suas vítimas morrendo prematuramente (cerca de 15 anos antes).

Há aproximadamente 1.8 bilhão de jovens (com idades entre 10-24 anos) no mundo, sendo que mais de 85% estão em países em desenvolvimento. Tendo sobrevivido às doenças vulneráveis à infância, estes jovens são geralmente saudáveis.

Entretanto, como a indústria do tabaco intensifica seus esforços para alcançar usuários novos e com potencial de fumar por longo período, a saúde de uma porcentagem significante da juventude do mundo está seriamente ameaçada.

A nicotina é uma substância altamente adictiva e a experimentação por crianças e adolescentes pode facilmente levá-los à dependência por toda a vida.

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